Análise da Flutuação de Votos no PSDB em Viamão: De Valdir Bonatto a Rafael Bortoletti

A trajetória política em Viamão, especialmente envolvendo o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), revela um panorama dinâmico e, por vezes, surpreendente nas últimas eleições. Desde 2008, observamos um ciclo de altos e baixos, com candidatos da sigla alternando vitórias marcantes e derrotas, refletindo não apenas questões locais, mas também tendências nacionais e regionais.
2012: A Ascensão de Valdir Bonatto
Nas eleições de 2012, Valdir Bonatto (PSDB) conquistou a prefeitura de Viamão com 43.283 votos, um número expressivo que o alçou ao cargo de prefeito. Naquele momento, Bonatto surfava na onda de uma nova proposta administrativa e contava com um contexto político favorável para o PSDB, tanto no estado quanto no país. O desgaste do PT, que vinha de uma administração de 8 anos com Alex Boscaini (2005-2012), abriu caminho para a candidatura de Bonatto, que se posicionou como alternativa de renovação.
2016: O Salto de André Pacheco
Quatro anos depois, nas eleições de 2016, André Pacheco (também do PSDB) se elegeu com 56.739 votos — um crescimento impressionante de mais de 30% em relação a Bonatto em 2012. Este salto pode ser explicado pelo efeito continuidade. Pacheco sucedeu Bonatto, sendo seu vice-prefeito, o que reforçou a percepção de estabilidade e continuidade das políticas que, naquele momento, eram vistas como benéficas para a cidade.
Outro fator relevante foi o desgaste crescente do PT em nível nacional, especialmente em razão do impeachment da presidente Dilma Rousseff e os escândalos de corrupção associados ao partido. O reflexo dessa conjuntura fez com que o PSDB, que já era uma força local, ganhasse ainda mais adesão em Viamão.
2020: A Queda e o Retorno de Valdir Bonatto
Entretanto, nas eleições de 2020, Valdir Bonatto, retornando como candidato à prefeitura, conquistou apenas 23.957 votos, uma queda acentuada em relação à sua eleição anterior em 2012 e ainda mais significativa se comparada ao sucesso de André Pacheco em 2016. Esse recuo pode ser interpretado sob várias óticas:
1. Desgaste Natural de Imagem: Após já ter sido prefeito, a percepção sobre sua gestão anterior pode ter enfraquecido sua base eleitoral, especialmente entre eleitores que esperavam uma renovação.
2. Cenário Fragmentado: Em 2020, o PSDB enfrentou um cenário político mais fragmentado, com maior concorrência e propostas alternativas, o que dispersou os votos.
3. Impacto da Pandemia: A pandemia da COVID-19 trouxe novos desafios aos gestores públicos e influenciou diretamente as campanhas eleitorais, com temas de saúde pública, assistência social e gestão de crise assumindo o protagonismo.

2024: A Consolidação de Rafael Bortoletti
Finalmente, em 2024, Rafael Bortoletti (PSDB) foi eleito prefeito com 49.914 votos, retomando parte do protagonismo perdido pelo partido em 2020. Bortoletti, embora do mesmo partido que Bonatto e Pacheco, apresentou uma proposta de renovação dentro da sigla, o que pode ter ajudado a reconquistar uma parcela significativa do eleitorado.
Esse resultado mostra que, embora tenha havido um momento de declínio, o PSDB ainda mantém uma base eleitoral forte em Viamão. A votação de Bortoletti, inferior à de Pacheco em 2016, mas ainda robusta, sugere que o partido conseguiu se ajustar às novas demandas do eleitorado, apesar dos desafios dos últimos anos.
O Papel de Alex Boscaini (PT) e a Perda de Terreno do PT
Não podemos deixar de comparar esse desempenho do PSDB com a trajetória de Alex Boscaini, do Partido dos Trabalhadores (PT). Boscaini foi eleito em 2008 com 51.624 votos, um número impressionante que consolidou sua liderança política na cidade. Contudo, em 2020, quando tentou retornar à prefeitura, conseguiu apenas 33.584 votos, uma queda de mais de 35%.
Esse declínio do PT em Viamão reflete o desgaste da imagem do partido em nível nacional e estadual, além de um crescente desencanto do eleitorado local com suas propostas. Ao contrário do PSDB, que conseguiu se reinventar com novos rostos e propostas, o PT pareceu preso às antigas estratégias, sem conseguir captar o anseio por renovação que se consolidou nas últimas eleições.
Análise Política do Fenômeno
A comparação desses resultados eleitorais indica que o PSDB conseguiu se manter como a principal força política em Viamão nos últimos 12 anos, mesmo com oscilações significativas. Um dos fatores que explicam esse fenômeno é a capacidade do partido de se adaptar a novas circunstâncias e apresentar candidatos com perfis diferentes, mesmo que dentro de uma mesma linha ideológica.
Enquanto isso, o PT, que já foi hegemônico na cidade, viu sua base eleitoral se reduzir drasticamente, tanto pela ascensão do PSDB quanto pelo desgaste generalizado que o partido sofreu após os escândalos de corrupção e a perda de poder em nível nacional.
Em suma, Viamão reflete a dinâmica de muitos municípios brasileiros, onde o eleitorado se torna cada vez mais exigente e menos fiel a partidos, buscando candidatos que ofereçam respostas concretas aos problemas do cotidiano. Para o futuro, será interessante observar se o PSDB conseguirá manter sua hegemonia ou se novas forças políticas emergirão, em um cenário que parece cada vez mais volátil e imprevisível.